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A Angústia em Freud e Lacan: uma reflexão sobre suas perspectivas

  • selmapiranicabral
  • 22 de jan.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 29 de jan.

A angústia, enquanto fenômeno central na psicanálise, recebeu abordagens distintas e complementares por parte de Freud e Lacan. Esses dois grandes nomes da teoria psicanalítica nos oferecem visões que, embora diferentes, dialogam e enriquecem nossa compreensão sobre esse tema tão essencial.


Freud: Da Repressão à Função de Sinal de Alerta

Inicialmente, Sigmund Freud entendia a angústia como um subproduto direto da repressão. Em sua teoria inicial, os impulsos, especialmente os de natureza sexual, eram reprimidos pelo ego, e esse processo de repressão gerava a angústia. Contudo, Freud revisou essa ideia em sua obra Inibição, Sintoma e Angústia (1926). Ele passou a considerar que a angústia não é o resultado da repressão, mas o oposto: é a angústia que impulsiona o mecanismo de repressão.

Nessa perspectiva reformulada, o ego utiliza a repressão para tentar evitar o sofrimento que a angústia sinaliza. A angústia assume, então, um papel de alerta, funcionando como um mecanismo de defesa que prepara o ego para reagir a uma ameaça percebida, seja ela real ou imaginária. Porém, a repressão nem sempre é bem-sucedida, e os impulsos reprimidos podem retornar sob a forma de sintomas neuróticos.

Dessa forma, para Freud, a angústia é uma resposta a situações de perigo psíquico. Ela representa um sinal de que algo ameaça o equilíbrio mental, mobilizando o sujeito a buscar proteção ou reorganizar-se diante do potencial sofrimento.


Lacan: A Angústia e a Estrutura do Desejo

Jacques Lacan, por sua vez, oferece uma abordagem diferente, mas igualmente profunda. Para ele, a angústia tem um caráter estrutural e está intimamente ligada à dinâmica do desejo e da falta. Enquanto o desejo é sustentado pela ausência – por aquilo que falta –, a angústia surge, paradoxalmente, quando essa falta é interrompida.

Lacan argumenta que a angústia não é causada pela falta em si, mas pela "falta da falta". Ou seja, ela emerge quando o sujeito se confronta com algo que ameaça sua estrutura de desejo, preenchendo demais ou trazendo um excesso de presença. Esse excesso rompe a lógica simbólica que regula o funcionamento psíquico, expondo o sujeito ao Real – uma dimensão que escapa à linguagem e à simbolização.

Nesse contexto, a angústia aparece quando o sujeito se sente diretamente exposto ao desejo do Outro, sem a mediação simbólica que normalmente o protege. É uma experiência de confronto com o desconhecido, uma falha no sistema simbólico que desestabiliza o sujeito. Para Lacan, isso ocorre particularmente em relação ao objeto pequeno a, um conceito que representa o núcleo irredutível do desejo e o ponto de encontro entre o simbólico, o imaginário e o Real.


Um Diálogo Entre as Perspectivas

Embora diferentes, as visões de Freud e Lacan podem ser vistas como complementares. Freud nos oferece uma compreensão da angústia enquanto sinal de perigo e ferramenta psíquica para lidar com ameaças internas e externas. Lacan, por outro lado, aprofunda essa análise ao situar a angústia na estrutura do desejo, destacando seu vínculo com o Real e o impacto da "falta da falta".

Essas reflexões sobre a angústia não apenas ampliam nosso entendimento teórico, mas também têm implicações práticas para o trabalho clínico. Tanto em Freud quanto em Lacan, a angústia revela os limites do funcionamento psíquico e aponta para questões fundamentais sobre a relação do sujeito consigo mesmo, com o Outro e com o desejo.

Essa jornada conceitual nos lembra que a angústia, embora desconfortável, é também um convite para explorar as profundezas do inconsciente e compreender os mistérios da condição humana.

 

 
 
 

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